E eis que na quinta-feira, o Ricardo caiu da cama. Deve ter vindo às arrecuas até se estatelar no chão. Ficámos em pânico. Mais até do que ele. Eu comecei logo a palpar-lhe a cabeça à procura de um galo e a observar cada movimento e a achar tudo suspeito - se o miúdo se ria eu achava que podia estar maluquinho da queda, se saltava no colo do pai, é porque estava alterado, se se abraçava é porque estava sonolento... Enfim, tudo era um sintoma de que algo de muito grave se tinha passado... na minha cabeça!
Na inspecção à cabeça, na parte posterior onde estão os dois ossos do crânio que "encaixam" na coluna (espero que nenhum estudante de Medicina leia isto), eu vi logo um inchaço, com um líquido que andava de um lado para outro. Na Saúde 24, disseram-me que iam enviar uma ambulância para levar o menino ao hospital - aí é que pirei mesmo, mas uns segundo depois tive um momento de clarividência e disse: o menino não vomitou, aparentemente está bem disposto, acha que é preciso esse aparato todo? Podemos ser nós a levá-lo. Assim foi. Ligámos ao pediatra que aconselhou o mesmo.
Nos 30 km que nos separam do hospital, o Ricardo falou, cantou, riu-se... Enfim, parecia que nada tinha acontecido. E eu estava bastante mais calma. No atendimento, uma médica inspeccionou-o todo e alertou-me que "os gânglios" que eu tinham detectado existiam de ambos os lados e eram comuns nas crianças. Aguardei ainda que me desse um sermão, por tê-lo deixado sozinho na minha cama, mas adiantei-me "dra, eu tenho outro filho, não foi a primeira vez que isto me aconteceu... Não sei como me distraí"... Ela sorriu e disse-me: "oh mãe, não se preocupe, isso acontece a todos".
Ficámos no hospital "em observação" (o que significa "esquecidos" na sala de espera) das 18h às 22h. O menino estava insuportável de sono, de fome (eu apenas tinha levado um boião de fruta). Entrei pelas urgências dentro e perguntei se se tinham esquecido de nós. "Ah, claro que não, a dra foi à enfermaria e agora está cá outra médica que não pode dar alta ao seu filho, etc, etc". Eu coloquei 10 minutos como limite para pedir o Livro de Reclamações. Até que nos chamaram. E foi a experiência mais surreal da minha vida. A médica que nos atendeu parecia tonta. Sentou-se à nossa frente e manteve comigo uma conversa digna de ir aos arames. Parecia um filme para rir. "Ah, ele está sonolento porque ainda não dormiu... está assim tanto barulho lá fora?", "e o que lhe deu para comer? que sabores tinha o boião?", "não lhe dê leite quando chegar, faça-lhe um biberão com uma colherzinha de papa sem glúten... Ah, ele já tem quase um ano, ah então pode dar glúten"... Bem foi uma conversa que me pôs a deitar faíscas pelo nariz!
No caminho, o meu menino finalmente dormiu, bebeu o seu biberonzinho no colinho da mãe e dormiu a noite todinha... Que dia mais atribulado.
A mim parecia que me tinha passado um camião por cima!